Vamos lá…2 semanas atrás comentei na minha tônica aqui no Bugg sobre a aguia voando e o Brasil e Europa patinando – link pro texto. Poisé, essa tem sido a tônica desde então. Gosto de escrever porque me faz parar e pensar. Sempre podems estar errados em nossas análises e suposições…e o bom de escrever é que você registra o que está pensando e depois pode ver onde errou ou acertou.
Outra coisa que gosto de fazer, e acredito ser importante para o investidor é parar para analisar como foi o desempenho do mercado…especialmente em bases trimestrais que acredito ser a melhor forma de ajustar carteira. Então vamos a esse balanço do 1T21…
MUNDO
DANDO UMA GERAL SOBRE O 1T21
Índices. O S&P 500 teve uma alta de 5.8%, o Dow Jones +7.8% e o Nasdaq +2.8%. Essas diferentes variações no trimestre já dão o tom do que vimos no mercado, ou seja, de uma rotação setorial em favor dos setores industriais, cíclicos (petróleo e materiais básicos) e financeiro, em detrimento de tecnologia. A rotação deu o tom, seguindo na esteira da expectativa de reabertura da economia. O gráfico abaixo leva em conta o desempenho da quinta e por isso os valores de variação percentual não batem com o exposto acima…ainda assim serve como forma de visualizar o movimento – Dow Jones na linha vermelha, S&P linha preta e Nasdaq linha azul.
REITs. Os Reits também tiveram um bom desempenho. O ETF VNQ (Vanguard Real Estate Index Fund) oferece uma boa forma de medir o desempenho dessa classe de ativos, uma vez que representa mais de dois terços do mercado de Reits nos EUA. No trimestre ele apresentou alta de 8.2% puxado pelo bom desempenho dos REITs de varejo, escritórios e residenciais – seguindo a linha da expectativa de reabertura da economia e da pujança do mercado imobiliário americano.
Bonds. No universo de bonds (títulos de dívidas) o impacto da alta nas curvas de juros futuros americanos acabou pesando sobre o desempenho dessa classe de ativos. O BND (Vanguard Total Bond Market Index Fund) oferece uma boa forma de medir o desempenho dessa classe, dado que sua carteira possui títulos de dívidas de empresas e países. No trimestre vimos uma queda de 3.9%.
VIX. Passado a posse do presidente Joe Biden vimos a volatilidade e a aversão a risco se reduziu alcançando os menores níveis desde o período pré-pandemia.
Ouro. Como reflexo da redução da volatilidade (menor aversão a risco) e com a alta dos yields dos títulos longos americanos, vimos o ouro tendo um desempenho fraco no trimestre com queda de 9.6%.
Commodities. As commodities em nível agregado tiveram um bom desempenho com uma alta de 9.4% no trimestre – índice utilizado para medir isso é o Dow Jones Commodity Index.
Grande parte dessa boa performance se explica pelo salto no preço do barril de petróleo (WTI) que saiu de US$ 48.52 para fechar o trimestre em US$ 59.16, uma alta de 21.9% no trimestre.
Emergentes. Esse cenário positivo até que ajudou o desempenho agregado dos mercados emergentes que tiveram alta de 3.2% – medido pelo EEM (iShares MSCI Emerging Markets ETF). No entanto, tal alta não foi percebida pela bolsa brasileira que caiu 2% no período saindo de 119.017 pontos para fechar o trimestre nos 116.634 pontos. Gráfico abaixo compara o desempenho dos emergentes (linha vermelha) com o Ibovespa (linha verde).
Índice dólar e o Dólar contra o Real. Desafiando muitas projeções e a despeito de toda preocupação com a emissão de moeda e os estímulos monetários que o governo americano tem dado, o dólar se valorizou contra uma cesta de moedas globais. A alta foi de 3.6% medida pelo índice dólar. A explicação aqui me parece simples: (i) as perspectivas de crescimento para economia americana superam a maioria das economias desenvolvidas; (ii) essa expectativa ganha respaldo no avanço rápido da vacinação nos EUA a qual permite uma reabertura mais rápida da economia. Esses dois fatores em conjunto fortaleceram o dólar nesse primeiro trimestre.
E contra o Real não foi diferente. Apesar do otimismo do início do ano, vimos os casos de covid aumentar, a economia fechar e a instabilidade política se elevar no Brasil. Nesse cenário o dólar se valorizou 8.4% contra o Real, saindo de R$ 5.19 e fechando o trimestre em R$ 5.63.
RESUMINDO O TRIMESTRE…
Em linhas gerais podemos dizer que o investimento no mercado americano se mostrou mais uma vez uma decisão acertada, seja pela valorização observada no câmbio (alta do dólar ante o Real) seja pela alta das bolsas americanas. Além disso, o acesso global permite exposição a outros mercados emergentes e commodities que também apresentaram retorno positivo. Por outro lado, investimentos mais conservadores como é o caso da renda fixa e do ouro, deixaram a desejar nesse trimestre.
O trimestre nos mostrou que é indispensável ter acesso a investimentos globais! Uma carteira só com ativos brasileiros, muito provavelmente viu seu valor ser reduzido em dólares; teve perdas na bolsa brasileira e provavelmente não teve grandes rendimentos na renda fixa…já o acesso global permitiu exposição a outros mercados emergentes e commodities que também apresentaram retorno positivo.
OLHANDO A FRENTE
Obviamente que prospectivamente é sempre mais difícil tecer comentários ou chutes furados…mas do que vejo hoje é que temos alguns fatores que ajudam o otimismo com a economia americana…vou listar:
- (i) tivemos um pacote que injetou $1.9 Trilhão de recursos sendo grande parte direcionada diretamente ao consumo;
- (ii) tivemos o anúncio de um novo pacote, agora voltado para infra-estrutura que estima investimentos de mais de $2TRI em alguns anos;
- (iii) vacinação segue avançando bem com 30% da população vacinada;
- (iv) índice da atividade manufatureira atingiu seu nível mais forte em mais de 37 anos em março, com o emprego nas fábricas sendo o maior desde fevereiro de 2018;
- (v) payroll divulgado na sexta surpreendeu a todos vindo bem acima do esperado…taxa de desemprego caiu para 6% com a economia americana gerando 916 mil postos de trabalho ante 675 esperado;
- (vi) último dado de confiança do consumidor que foi anunciado na terça veio acima do esperado e no maior nível desde abril de 2020.
Do que vejo aqui todos dias morando aqui nos EUA…é um país reabrindo, muitas placas de contratação de gente em lojas, cafés, etc; e a confiança na economia retomando.
Olhando o Fear and Greed Index, apesar das altas, não estamos numa jona de perigo…o que seria no extreme greed.
Para bolsa temos ainda um mês de abril que sazonalmente é positivo:
Então tirem suas próprias conclusões.
BRASIL
Sobre o Brasil eu sinto um sentimento misto.
No CURTO PRAZO entendo que nossa bolsa esteja barata e que possamos ter alguma reversão disso, ou seja, altas. Só feeling mesmo…um feeling que é reforçado pelo gráfico acima, que mostra que abril tem sido um mês bom para o ativo de risco ações americanas…mas sempre respinga algo no Brasilzão quando o mercado está tomador de risco. Além disso, esse feeling é alimentado por gráficos como esses…
Que mostram que o earnings yield (inverso do P/E) do investimento em bolsa se mostra bem elevado ante a sua média historica…
E não muito distante do yield de renda fixa
Além disso, quandotu olha o gráfico de P/E da bolsa, vê que já houve uma boa reversão a média…e considerando uma recuperação normal de economia que projete alguma melhora de lucros pra 12 meses, vemos o P/E foward já em níveis bem descontados…
Então eu entendo que sim há espaço para bolsa brasileira andar e corrigir o que ficou para trás dos emergentes ao menos. Penso que é “só” uma questão da vacinação andar minimamente que conseguiremos passar por esse pior momento na economia e isso se refletiria rapidamente na bolsa. E em termos de assimetria me parece que as empresas ligadas ao mercado interno foram excessivamente penalizadas – consumo, construção e shoppings em especial. Sigo achando bancos baratos, mas o mercado parece não concordar comigo….e tenho que dar o braço a torcer pra dizer que as empresas ligadas a commodities ainda parecem baratas…conquanto que os preços se mantenham ou não caiam fortemente.
Ja no MÉDIO PRAZO…
Em exatos 18 meses estaremos decidindo quem será o novo presidente, os novos governadores, os congressistas e senadores…quem será o novo comandante da Eletrobras, Banco do Brasil, Petrobras, Copel, Cemig, etc.
E dá pra dizer que em uns 8 meses … entrando em 22, estaremos em campanha….com todos os riscos que isso pode trazer para o mercado. E uma campnha que tem tudo para ser mega polarizada. Desde que saímos da ditadura militar sempre tivemos o embate de um candidato de esquerda e outro de centro-direita digamos assim. A campanha de 22 caminha para ser mega polarizada e a mue ver sem um grande vencedor…e me desculpe o pessimismo….hoje o que temos é um Bolsonaro fragilizado, com pouco apoio político e sem um dream team de ministros; e do outro lado um nome que é forte de um cara que já foi presidente que vocês conhecem bem… Sei que as empresas conseguem superar desafios e enfrentar adversidades e diferentes governos…mas que não dá segurança pra investir a isso não dá! Inclusive, pensando nisso, vejo a cotação do dólar como bem fair!
Sorry mas não consigo ficar otimista olhando isso acontecer.
Era isso.
Aquele Abs.
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