Haja visto o arrefecimento econômico do Brasil nos últimos 5 anos, aumento do desemprego e agravamento da atividade produtiva, tivemos, entretanto, um indicador que não entrou em colapso no país. A inflação, historicamente elevada, apresentou comportamento atípico de queda, chegando ao seu menor patamar histórico. Corroborando com os diversos fatores endógenos negativo, o Banco Central do Brasil encontrou um ambiente propicio a um novo ciclo de diminuição da taxa básica de juros – Selic.
Obviamente não devemos dar méritos apenas a nova administração, visto que esta recebeu uma herança benigna advinda de uma inflação menor. Notamos que a trajetória descendente da taxa SELIC ocorre desde 1999, entretanto, com a tramitação em andamento para uma provável aprovação da Reforma da Previdência, junto com os dados de atividade econômica e hiato do produto em baixa, fez com que os agentes do mercado vejam como inexorável a queda dos juros nominais nos próximos meses. Conteúdo, o juro neutral ainda não é consensual entre analistas e economistas, dado a fraca melhora da atividade econômica mesmo via estímulos monetários nos últimos anos.
O que é importante saliear é que este cenário de estimulo financeiro por parte do BC entra em consonância com o mercado internacional e sua trajetória descendente. No Brasil, por exemplo, hoje com a taxa Selic encontrasse em 6,5%, e a inflação acmulada em 12 meses é de 4,58%, convergindo para a meta de 4,25% com bandas de 1,5%. Veja o gráfico abaixo. Isto significa que estamos em um dos menores patamares de retorno real (um menos o outro) da história no páis, sendo este atualmente em apenas 1,92%. Projetado pelo FOCUS para o próximo, temos uma inflação próxima de 4% a.a e possível queda dos juros para 6% e 5,5%, convergindo para um juro rea de 2% e 1,5%.
É de senso comum no mercado que também a ETTJ apresente retração em suas taxas futuras, em especial os vértices de maior duração, sendo estes notadamente mais correlatos com a percepção de risco do país. Passada a reforma da previdência, em maior ou menor magnitude, o nível de confiança dos agentes externos tende a aumentar, possibilitando maior queda dos juros futuros e sua manutenção em patamares menores. Derivado deste movimento, podemos esperar nos investimentos em renda fixa tradicionais uma continuação do retorno real muito próximo a inflação, dada a demanda menor dos agentes por prêmio de risco.
No passado, os elevados níveis de juros nominais sempre foram explicado pela necessidade dos agentes econômicos por retornos reais positivos maior, dada grande aversão a econômica local. Resultante disto, o maior nível de prêmio dos nossos títulos e consequente valor da taxa SELIC, fez com que a maioria das instituições do mercado financeiro utilizassem sempre a taxa DI de um dia com índice referencial.
Porém hoje, a história é diferente
(e junto a esta afirmação o medo de dizer “desta vez a história é diferente”)
Refletindo que o mundo entrou em uma nova dinâmica, não seria então hoje o momento de desindexar a economia Brasileira? Retirar o CDI como benchmark dos investimentos e colocar outra métrica de performance?
Na minha visão sim!
Minha perspectiva é que teremos uma mudança significativa no principal benchmark dos investimentos do Brasil ao longo dos próximos anos.
Acredito que devemos desindexar os produtos de investimento e buscar mais ativos/fundos que gerem retornos reais ou absolutos, e não mais atrelados ao CDI.
Digo desindexar, porque o país possuí diferentes índices financeiros para cada setor, porém o cenário geral demonstra que grande parte deles perderam força nos últimos anos.
Por exemplo, muitos contratos de aluguel sempre foram ajustados anualmente via IGPM. Se você possui ou aluga um apartamento sabe disto. Porém, com piora da economia e maior vacância dos imóveis, houve um aumento do poder de negociação para o lado dos inquilinos, o qual permitiu que muitos deles negociassem a manutenção do mesmo valor dos últimos anos ou até diminuição do mesmo.
Outro exemplo para o mercado de trabalho. Sindicatos historicamente sempre tiveram o poder de negociar o reajuste salarial próximo a inflação mais um retorno real aos funcionários. Hoje, com o desemprego elevado, baixo crescimento ou até contração das empresas e diminuição pode poder sindical, muitos funcionários preferiram manter os seus empregos ou mudança de carreira a tentar um reajuste salarial maior.
Por fim, mas não menos importantes, o principal benchmark do mercado financeiro, isto é o índice de retorno desejável pelos agentes em instrumentos de renda fixa e em fundos de investimento (renda fixa e multimercado) no Brasil sempre foi o CDI, mas hoje, grande parte das carteiras aloca no mínimo uma parte dos seus cursos em ativos Pré fixado, inflação mais juros ou até bolsa.
Veja, a taxa CDI sempre fora uma métrica importante para os agentes financeiros, sendo o benchmark de 94% dos produtos de renda fixa e fundos de investimento CVM 4444 e 555 do país. Note que mesmos portfolios que possuem diversos ativos financeiros com retornos diferentes ao seu mandato, como pagamento de inflação mais juros ou pré-fixados, estes fundos de investimento sempre buscar retornos próximos ao índice DI.
É esta indexação dos investimentos no Brasil ao CDI que eu vejo com um futuro menos provável, devido a queda da taxa Selic e consequente diminuição dos retornos de renda fixa do Brasil. A busca por retornos maiores fará com que os investidores tomem duas ações: Aumentem de risco da carteira via outros ativos não derivados do DI ou/e realizem o alongamento da duration das carteiras.
Imagine que com a queda da Selic e sua provável manutenção da mesma em níveis considerados baixos, devemos ter uma proliferação de investimentos que apresentem ganhos reais maiores que a inflação e pré-fixados, ou que ao menos os veículos de investimento busquem retornos absolutos superiores ao atual patamar da taxa juros.
É assim em economias maduras como Estados Unidos, Alemanha e Japão. Maior parte da emissão destes países é em Fixed Bonds e não em Floating. E faz todo sentido! Lá analisasse o ganho absoluto que o gestor atinge com determinado portfolio/mandado ou o retorno real que um título de dívida consegue gerar.
Isto foi sempre buscado, por exemplo, por instituições de previdência. Sejam os RPPS, o qual possuem o benchmark de IPCA mais 6% a.a. (algo considerado impraticável hoje em dia aplicando apenas em títulos públicos), sejam os fundos de previdência privada. Seu benchmark implícito seria o retorno real, acima da inflação, dado o horizonte de investimento e as necessidades dos seus participantes.
Nunca fez sentido comparar os resultados de um fundo de previdência CVM 4444, o qual possui um mandato mais restrito e alongado, ao benchmark de um fundo de previdência CVM 555 que normalmente é o CDI, tanto para fundos de renda fixa como multimercado. Isto porque os fundos de investimento tradicionais se comparam a uma taxa de aplicação de apenas um dia, o qual os bancos utilizam como métrica.
É compreensível que devido aos elevados níveis de juros nominais do passado, junto com a desconfiança dos agentes na economia, fizessem com que o índice utilizado pela maioria das instituições do mercado sempre foi a taxa DI de um dia. Mas hoje o cenário, e principalmente o nível dos juros, é diferente.
Se você investe no tradicional produto DI (que possui retorno muito similar a taxa básica de juros) você está ganhando cada vez menos ao longo dos anos em termos reais. E, a consciência deste menor retorno, fará com que os agentes procurem cada vez mais produtos alternativos ao principal benchmark de renda fixa do Brasil.
Por fim gostaria de salientar que mudança do principal benchamark de renda fixa no Brasil, obviamente, não deve ocorrer de forma instantaneamente. Não haverá um decreto ou uma instituição que irá mudar do dia para noite os produtos e veículos de investimento já existente, porém, dada a maturação do mercado, conciencia financeira do agentes e maior demanda por investimentos alternativos ao percentual do DI, vejo como uma das mais claras mudanças futuras no país a desindexação do CDI nos investimentos.
Você concorda comigo? Comente abaixo a sua opinião.
E se você gostou destas duas versões de texto, uma técnica e uma mais simples, curta qual você mais gostou, para que assim eu possa entender qual a melhor linguagem a ser utilizada no futuro.
-Guilherme Renato Rossler Zanin
Economista, MBA e Gestor de Recursos CVM – CGA
Disclaimer Os relatórios e/ou em qualquer conteúdo de análise e recomendação providos pelo Bugg possuem caráter meramente informativo e tem como objetivo fornecer informações que possam auxiliar o usuário a tomar sua própria decisão de investimento, não devendo ser considerado como uma oferta para compra ou venda de ativos. Os editores responsáveis pela elaboração deste relatório declaram, nos termos da Instrução CVM nº 598/18,que as recomendações do relatório refletem única e exclusivamente as suas opiniões pessoais e foram elaboradas de forma independente. Além disso, os instrumentos financeiros discutidos neste relatório podem não ser adequados para todos os investidores. Este relatório não leva em consideração os objetivos de investimento, a situação financeira ou as necessidades específicas de um determinado investidor. A decisão final em relação aos investimentos deve ser tomada por cada investidor, levando em consideração os vários riscos, tarifas e comissões.